A gestão de projetos, em sua essência, busca planejar, organizar e controlar recursos para atingir objetivos específicos dentro de prazos e orçamentos definidos. Ao longo da história, diversas abordagens foram desenvolvidas para otimizar esse processo, cada uma com suas características e adequações a diferentes contextos.
O Modelo Tradicional: Uma Abordagem Linear e Sequencial
Antes do surgimento do Manifesto Ágil, a gestão de projetos era predominantemente baseada em modelos tradicionais, como o modelo Waterfall (cascata). Nesse modelo, as etapas do projeto eram sequenciais e lineares:
- Requisitos: Definição detalhada de todas as necessidades do projeto.
- Design: Planejamento minucioso da solução a ser implementada.
- Implementação: Desenvolvimento da solução com base no design definido.
- Teste: Verificação da conformidade da solução com os requisitos.
- Implantação: Entrega da solução final ao cliente.
- Manutenção: Correção de falhas e implementação de melhorias.
Essa abordagem, embora estruturada, apresentava algumas limitações:
Foco na Documentação: A priorização da documentação em detrimento da entrega de valor ao cliente.
Rigidez: A dificuldade em lidar com mudanças nos requisitos durante o projeto.
Falta de Flexibilidade: A impossibilidade de adaptar o projeto a novas necessidades ou descobertas.
Longos Prazos: A demora na entrega de versões funcionais do produto, o que dificultava a obtenção de feedback antecipado do cliente.
Mundo VUCA e Mundo BAN
O cenário global contemporâneo é caracterizado por mudanças rápidas, imprevisíveis e complexas. Os conceitos de VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) e BANI (Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível) surgem como ferramentas para compreender e navegar nesse ambiente desafiador.
O Impacto dos Mundos VUCA e BANI na Gestão de Projetos: Uma Análise Comparativa entre o Modelo Cascata e a Metodologia Ágil
O cenário global atual é caracterizado por mudanças rápidas, imprevisíveis e complexas. Os conceitos de VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) e BANI (Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível) surgem como conceitos para compreender estas dinâmicas;
VUCA (década de 90):
- A volatilidade exige adaptação constante a mudanças repentinas.
- A incerteza dificulta a previsão de cenários futuros.
- A complexidade torna as relações de causa e efeito obscuras.
- A ambiguidade gera múltiplas interpretações e decisões difíceis.
BANI (pós 2018):
- A fragilidade expõe a vulnerabilidade de sistemas e processos.
- A ansiedade gera estresse e dificulta a tomada de decisões racionais.
- A não linearidade torna os resultados imprevisíveis e desproporcionais aos esforços.
- A incompreensibilidade desafia a capacidade de entender e dar sentido ao mundo.
O modelo cascata, com sua estrutura rígida e sequencial, apresenta dificuldades em lidar com a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade do mundo VUCA. A dificuldade em lidar com mudanças nos requisitos e a demora na entrega de versões funcionais do produto tornam essa abordagem inadequada para projetos em ambientes dinâmicos e imprevisíveis.
A metodologia ágil, por sua vez, se mostra mais adequada para o mundo VUCA e BANI. A flexibilidade, a capacidade de adaptação a mudanças, a entrega contínua de valor e a colaboração entre os membros da equipe permitem que os projetos sejam ajustados às novas necessidades e desafios que surgem ao longo do caminho.
Os 4 valores da Filosofia Ágil
- Indivíduos e interações: Mais ênfase nas pessoas que fazem o trabalho e em como elas colaboram, em vez de reforçar ferramentas e processos rígidos.
- Software funcionando: Entregar regularmente um software funcional e útil é mais valorizado do que uma documentação extensa.
- Colaboração com o cliente: A colaboração contínua com o cliente para aprimorar e validar o produto é incentivada do que a negociação de contratos.
- Resposta à mudança: Concentrar-se na capacidade de se adaptar às mudanças é mais importante do que seguir um plano fixo.
Os 12 princípios do Manifesto Ágil
Manifesto público: https://agilemanifesto.org/iso/ptpt/principles.html
- Satisfação do Cliente: A satisfação do cliente por meio da entrega antecipada e contínua de um software que cubra suas necessidades.
- Alterações: Aceitar mudanças nos requisitos, mesmo nos estágios finais de desenvolvimento.
- Entrega periódica: Entrega periódica de software funcional, de preferência em ciclos curtos.
- Colaboração: Colaboração estreita e diária entre a equipe de desenvolvimento e os clientes.
- Projetos: Projetos construídos em torno de indivíduos motivados, proporcionando o ambiente e o suporte necessários.
- Comunicação: Comunicação direta por meio do método mais eficaz de transmissão de informações.
- Software: O software funcional é o principal parâmetro de evolução.
- Sustentabilidade: Desenvolvimento sustentável, mantendo um ritmo constante.
- Atenção contínua: Atenção à excelência técnica e ao bom projeto.
- Simplicidade: Simplicidade como a arte de maximizar a quantidade de trabalho não realizado.
- Equipes: Equipes auto-organizadas para obter a melhor arquitetura, requisitos e projetos.
- Reflexão: Reflexão regular sobre como ser mais eficaz, ajustando o comportamento conforme necessário.
Scrum e Kanban
O conceito de “estrutura” é o que melhor descreve o conjunto de diretrizes e filosofias que são, ao mesmo tempo, servem como um guia de trabalho, aberto para serem interpretados e aplicadas à maneira de cada indivíduo.
Dentro deste conceito, temos duas estruturas que se destacam, o Scrum e o Kanban. Ambas as estruturas, com abordagens diferentes, oferecem soluções flexíveis para a gestão de equipes e projetos, promovendo a colaboração e o aprimoramento contínuo.
O Scrum é conhecido por sua estrutura de sprints e funções definidas. Concentra -se no planejamento e na execução iterativos. Já o Kanban é amplamente usado para o gerenciamento visual do fluxo de trabalho, pois promove eficiência e flexibilidade.
Nos próximos artigos iremos explorar melhor estas duas estruturas.